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Mentes Saudáveis, Pesquisas Brilhantes

Em meio ao universo desafiador da pesquisa científica, destacamos a história de Mariana Lara Mendes Pergentino. Bióloga e mestre em Microbiologia Médica pela Universidade Federal do Ceará, sua pesquisa na área da saúde avalia o uso de antibacterianos no efeito estimulatório em células planctônicas e biofilmes de espécies de Malassezia. “Esse gênero é um dos principais representantes da nossa microbiota da pele, mas em algumas circunstâncias essas leveduras podem se tornar patogênicas e ocasionar infecções invasivas. A utilização indiscriminada de antibióticos é um dos fatores que pode ocasionar um estímulo e até mesmo diminuir a sensibilidade desses fungos aos antifúngicos, promovendo uma dificuldade no tratamento dessas infecções”, explica a pesquisadora.

Durante sua vivência acadêmica, Mariana viu sua pesquisa e sua vida tomarem novos rumos. Fora do jaleco, se viu no papel de cuidadora da família, tendo que equilibrar a rotina dentro do laboratório e em casa, tendo sua saúde mental afetada por questões pessoais e profissionais. A experiência de Mariana é semelhante a de vários outros cientistas.

Em 2022, a revista The Lancet publicou uma pesquisa que destaca um aumento de 80% dos casos de ansiedade no país após a pandemia. Na comunidade científica, a pressão para ser produtivo é um dos maiores obstáculos. Gerar novos dados e estar sempre na linha de frente das novas descobertas não é uma tarefa fácil. Foi o que mostrou uma pesquisa realizada com cientistas que atuaram durante a pandemia de Covid no Brasil. A exaustão da rotina promovida pelo ambiente de trabalho aliada ao medo fez com que se agravasse a crescente crise de saúde mental vivenciada por esses profissionais.

Outro fator chave identificado pela pesquisa é o impacto das relações de trabalho da saúde mental dos entrevistados. Estudantes de pós-graduação relataram a importância da supervisão para um resultado bem-sucedido, ao passo que a inadequação do suporte é um grande gerador de estresse. Além disso, situações como bullying, assédio e discriminação foram queixas recorrentes e tidas como endêmicas em alguns ambientes de pesquisa.

Os pesquisadores também revelaram a dificuldade de conciliar longas horas de trabalho com a vida pessoal. Rotinas exaustivas e a pressão exacerbada por metas de publicações desenvolvem expectativas irracionais em relação à vivência desses profissionais. A estruturalidade desses problemas inclui também a remuneração incompatível com as exigências. A instabilidade financeira que envolve contratações de curto prazo, disponibilidade de editais para pesquisa e até mesmo o autofinanciamento são recorrências que destacam a precarização da rotina científica no país.

A realidade é que os cientistas muitas vezes são dissociados das suas vidas fora do trabalho. As incertezas que fluem nas questões pessoais sobrecarregam ainda mais os responsáveis pela produção de conhecimento técnico-científico no país. Muitos deles atuam também como cuidadores e mantenedores do lar e não encontram no ambiente de trabalho o suporte necessário para garantir uma qualidade de vida que atenda suas necessidades.

A saúde mental ainda é vista como um tabu e potencial destruidor de carreira para o desenvolvimento profissional do cientista brasileiro. Hoje, existe uma urgência em se pensar novas culturas de pesquisa no país, que sejam capazes de respeitar as carências coletivas da comunidade acadêmica no lugar do individualismo competitivo. Isso inclui a construção de estratégias que promovam a saúde mental e o bem-estar dos pesquisadores.


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