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PESQUISAR PARA INOVAR, INOVAR PARA AVANÇAR

A inovação é a porta de entrada para o progresso. E a ciência tem um papel fundamental para a melhoria da vida em sociedade.


 


A necessidade é a mãe da invenção, como diria a célebre frase atribuída a Platão. O ser humano apresenta uma grande capacidade de adaptação como diferencial frente a outras espécies justamente porque consegue analisar e transformar o meio que o cerca. Eis o papel dos cientistas: formular perguntas e encontrar respostas. “A pesquisa não é feita para encher o Lattes do pesquisador. Ela é feita para melhorar a vida da sociedade”, afirma Ana Gardennya Linard, professora e pesquisadora na área de Educação e Políticas Públicas.


Egressa dos bancos da Universidade Estadual do Ceará (UECE), onde graduou-se em Física e fez mestrado em Eletromagnetismo, Ana Gardennya decidiu redirecionar sua trajetória acadêmica: ao ser aprovada em concurso para ser professora da rede estadual de ensino, a realidade socioeconômica que viu em sala de aula a fez reconsiderar seu objeto de estudo. “Quando tive contato com aquelas crianças e jovens que, às vezes, só têm a alimentação da escola para sobreviver, que não têm comida em casa, isso me incomodou de maneira profunda”, disse. A partir daí, passou a se dedicar a políticas públicas, com foco na Educação, e seu papel na mitigação das desigualdades, sejam elas de classe social, raça ou gênero.


A professora destaca sua crença em uma sociedade mais justa e igualitária para todos. Este é, ao mesmo tempo, o ponto de partida e o de chegada de sua produção científica, que assume um papel político e engajado. “Através da pesquisa, é preciso que quem está com a caneta na mão, na cadeira de gestor, compreenda o impacto daquele resultado e o que ele pode fazer em relação a isso”.


Igualmente um defensor do papel transformador da ciência, Arimatea Barros Bezerra é professor da Faculdade de Educação (FACED-UFC), colaborador do Instituto de Cultura e Arte (ICA-UFC) e coordenador do projeto “Alimentos tradicionais do Ceará, alimentação escolar e desenvolvimento sustentável”. Os estudos se debruçam sobre produtos tradicionais oriundos da agricultura familiar no Ceará, analisando seus significados antropológicos e verificando a possibilidade de sua inclusão na alimentação escolar.


O professor destaca a relevância das Ciências Humanas e o retorno que os cursos da área dão para a sociedade. “O que a gente faz na Gastronomia procura dar respostas para problemas do cotidiano, principalmente em termos de segurança alimentar e nutricional”. Ele sinaliza a influência de fatores sociais em sua pesquisa, pois falar de alimentação implica falar também de valores culturais, educação nutricional, saúde pública e economia local.



 


No Brasil, a profissão de cientista com frequência é exercida concomitantemente a outros ofícios - seja por amor ao trabalho, seja por necessidade.


 

A profissão de cientista, pelo menos no contexto brasileiro, dificilmente é exercida no singular. Frequentemente, é acompanhada de um, dois, três outros ofícios paralelos. Às vezes, por amor ao que se faz; outras, por pura necessidade, afinal, as contas não param de chegar. Frente à precarização que acomete muitos setores do mercado de trabalho, obrigando profissionais a desempenhar múltiplas funções, sem que haja necessariamente um acréscimo de remuneração proporcional ao aumento da carga de trabalho, uma observação recorrente nos relatos dos entrevistados é o desempenho de outras atividades, para além da pesquisa, como fonte de renda.


“Muitas vezes, o que o pesquisador quer é ter um tempo a mais para fazer seu trabalho. Não consigo ter dedicação exclusiva à minha atividade de pesquisa, isso me afeta”, relata Thatiany Nascimento, jornalista e pesquisadora. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM-UFC), sua trajetória acadêmica tem sido dividida entre os estudos e a redação do Diário do Nordeste, onde trabalha. “Não é fácil conciliar. Se a gente pudesse ter o privilégio de escolher, escolheria permanecer em um dos dois de forma mais dedicada”.

Com orgulho na voz, Thatiany compartilha que, a despeito desse cenário, foi vencedora, em 2021, do Prêmio Compolítica, da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política, na categoria “Melhor Dissertação”, com o tema Governos (IN)visíveis e jornalismo mediador no Ceará: análise do uso de ferramentas de transparência pública como fontes de informação jornalística. Ela propõe, então, uma reflexão sobre o potencial perdido na nossa ciência por conta de semelhantes condições de trabalho. “Se a gente consegue fazer um trabalho de excelência tendo que conciliar as duas coisas, tendo que se dividir, distribuir os horários, repensar a rotina, imagine se tivesse dedicação exclusiva”.


Essa dificuldade também está presente na fala de Ana Gardennya Linard. Por ter de se dedicar aos estudos concomitantemente ao trabalho nas salas de aula da rede pública e, posteriormente, na Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC), precisa de muita organização para dar conta das múltiplas atribuições. Muitas vezes, o único tempo livre de que dispõe para ler artigos e assistir às aulas é no final de semana, momento em que, no cenário ideal, seria para o descanso. “Isso é uma escolha. Se você escolhe ter sua vida profissional e acadêmica caminhando de maneira paralela, você vai precisar abdicar de muitas coisas, dentre elas, uma parte do seu lazer, do seu tempo livre”.


Ednardo Rodrigues endossa o rol de cientistas “multitarefas”. Físico de formação, possui doutorado em Engenharia Elétrica pela UFC e escreve semanalmente para o Diário do Nordeste, onde mantém uma coluna especializada em Astronomia e Astronáutica. “A minha rotina se alterna entre dar aula, escrever, pesquisar e empreender. Dou aula e treinamento em Astronomia para leigos que sempre sonharam em operar um telescópio. Também leciono para turmas olímpicas do Ensino Médio, além de dar palestras sobre minhas pesquisas ou apenas para divulgação científica”.


Recentemente, o pesquisador incluiu a posição de empresário em seu currículo, após criar uma empresa que oferta cursos e palestras de Astronomia, Astronáutica e Astrofísica, além de suporte para a aquisição de equipamentos de observação astronômica. Comenta ser frequente, principalmente no contexto regional, que a atividade de pesquisa não represente a fonte de renda principal para os que trabalham na área acadêmica. “Ser cientista no Ceará é para poucos ainda hoje. Eu tenho o título de mestre cientista, mas não vivo da pesquisa. Vivo de dar aulas, palestras, organizar eventos. A pesquisa é apenas um complemento”.




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